Faltam dois minutos para a meia noite. Um camião da carne adaptado para discoteca ambulante estacionado junto ao cemitério municipal parece ter sido abandonado. Uma ténue nuvem esvai-se perante a magnificência da lua cheia perfeita. O cartucho de 8 pistas de Tony de Matos toca em loop e ao longe ouvem-se gritos de menina. É o Carlos.A “Sooouuu romântico”, ecoa Tony de Matos pelo silêncio da noite. Nas Nalgas fogem horrorizados. o seu lado Rui Alves de Sousa, ofegante, pergunta porquê. “Eu só vim falar de cinema!”, dizia cambaleando com os trapos ensanguentados daquilo que outrora seria uma bela roupa de domingo. “I Pitty The Foooooo…” ouve-se cada vez mais perto, juntamento com o som que parece ser um volumoso corpo a ser arrastado pelo pinhal. Batatinha sorri no meio de um arbusto, mas a intensidade da lua rapidamente revela que é apenas um torso mal tratado. Um anão malabarista chora a seu lado, tentando recompor as vísceras do seu defunto amigo. “Nem umas calças vestiu”, pensou Pedro enquanto passava por esta visão de horror, em passo rápido. Em vão. Um dor lancinante ao fundo da coluna e depois nada. O vazio. A escuridão absoluta onde nem a luz ao fundo se dignou aparecer. Uma viagem que seria para baixo, para o regaço quente de belzebu.