O preconceito, o saudosismo, o perigo das boas intenções, da tristeza, continuar, sobreviver num mundo que já não é bem o nosso, procurar de novo o amor. Desajustado, Armando Purificação sente na pele o anacronismo das suas experiências pela rede, desde as reações às suas fotos de juventude aos "unboxings" das suas compras de supermercado, passando pela descoberta dos contactos virtuais com a misteriosa Madame Saigon.
A forma como a adolescência se comporta no mundo virtual, as possíveis lições do karma - nem sempre justiça poética, e os riscos a que mesmo os teen trolls estão sujeitos na ciberlândia. Dioguinho é o neto de Armando. Com 15 anos, surfa na net à vontade, entre os cartazes de festivais, a pornografia e o avacalho com os amigos - até às custas do próprio avô. No entanto, na Internet descontração pode ser sinónima de sarilhos - e Dioguinho vê-se alvo de um maldoso esquema de chantagem.
A indignação profissional e compulsiva na rede. Os emojis a tomarem conta da linguagem. A. Santos Sousa é um antropólogo, académico de raiz. Na rede, os meandros da comunicação (e a falta dela) são para ele uma fonte de desconcerto. O politicamente correcto é um campo minado. Entre tanta gente que não se entende, uma série de posts e adivinhas crípticas com emojis parecem suster o maior sentido.
A solidão, a grande causa da luta pelo amor-próprio no tempo das redes. A busca pelo sentido da vida e pela aprovação. Adelaide procura na Rede alguma ordem para impor ao caos e à incerteza da sua vida. As aplicações dão jeito: seja o Wanted para saber quem a acha atraente, seja o Sleeping Hero para ter controlo sobre o sono e os sonhos. O que há de confortante nesta Rede, onde a esquizofrenia se intensifica e a modernidade vertiginosa espreita entre combates online que opõem políticos perigosos e activistas mascarados, o non sequitur dos conteúdos partilhados, o simultâneo de identidades, entre playboys pugilistas e velhotas de instagram.
A hipocrisia profunda por detrás de tudo ou quase tudo o que é trendy, a reacção ululante, agressiva, cobarde das massas; como a rede exponencia o lado pior da natureza humana. Ana "Vegan" de Almeida é uma conhecida autora. Juliano Marta Seixas é um conhecido realizador. Eram casados. A primeira não come carne. O segundo tem um novo filme aí a sair, que nada tem a ver com a sua ex-mulher. Ambas as afirmações são mentira, mas tal como o mesmo texto indulgente "copy-pasted" entre fãs, os mandamentos de Mestre Zucco ou os cabeçalhos ficcionais do filme de Juliano, as nossas narrativas repetem-se até à exaustão, até um rasgo, um quebrar na malha, e na Rede.
Um jovem humorista nos Açores. A ultraperiferia dos homens e o exibicionismo da natureza. Micael faz "stand-up" directamente no teclado (para além do mais, é gago). As centenas de reações que recebe são apenas metade do gozo. Quando Tati se revela ser uma fã mais dedicada (e sexy) que os demais, Micael redobra os esforços. Infelizmente as armadilhas da Rede estão prontas para engolir qualquer um, sejamos "Untaggables" ou "Homens Odiados".
A sátira ao underground, ao alternativo tão alternativo que acaba só e quebrado. Crítica aos que criticam a rede mas ainda assim dela não saem. JT Mendes tem muito de que se orgulhar na vida. É artista visual, CEO e criador de uma marca de cerveja artesanal, tem um currículo completo e uma justa idade aos ombros. Mas tentar calar a orfandade do pai com diálogos diários com um bot pago pode ser apenas o primeiro sintoma de que nem tudo está bem. Certas distâncias talvez sejam irreconciliáveis. E ninguém parece interessado na sua nova exposição.
Portugal e os preconceitos que tem (sobre si mesmo e os outros). Aquilo que se é (identidade) e aquilo em que se acredita. Theo é um "expat" holandês. É dono de um turismo rural e adora as paisagens portuguesas, as comidas portuguesas, os folclores portugueses. Os portugueses adoram-no, adoram os vídeos que faz, mesmo sem nunca terem visto a sua cara, o namorado, o interior. Entretanto, as tensões crescem e a instabilidade aumenta nos mais profundos tecidos que formam a Rede...
Ingenuidade e desilusão. Um novo user chega à rede com esperança e boa fé... enquanto esta se corrói e degrada. É incrível, mas é verdade: Daniel Sequeira nunca tinha criado um perfil nas redes sociais. A altura é agora, e é de elogiar a coragem (afinal, há padres que fazem triatlos!). Infelizmente para Daniel, é tão inóspita a Rede, tão claustrofóbico o algoritmo, tão opressivo o policiamento, tão momentânea a verdade, que não há salvação.
O colapso da rede. O NÃO venceu. A Internet acabou. As pessoas saem à rua. Tudo parece perdido, irreversivelmente mais complicado. A torneira foi fechada e com ela todas as relações, amores, desamores, ódios de estimação e amizades de secretária. Não parece haver nada a fazer. Isto é, até chegar à casa de uns poucos eleitos um misterioso convite para se reconectar.