Agostinho Lourenço, diretor da Policia Internacional em 1931, primeiro diretor da PVDE (1933) e da PIDE (1945) foi um dos homens-chave do regime salazarista. O homem que comandou durante 25 anos os serviços secretos portugueses e uma temida máquina de repressão politica, sustentada na tortura e nos informadores, era o "anjo negro" de Salazar. Um nome temido dentro do regime mas um rosto (ainda hoje) praticamente desconhecido de todos os portugueses. No primeiro episódio da série relatam-se as investigações para descobrir o espólio e o passado do capitão Agostinho Lourenço. Procura-se saber qual a origem do seu poder político. A biografia dos primeiros anos de vida do temido diretor da PIDE acompanha os inícios da carreira militar. Lourenço fez parte do primeiro contingente militar português que em 1916 fez os treinos militares em Tancos e nos inícios de 1917 partiu para França para lutar nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. A vida do primeiro é aproveitada, neste episódio, para narrar também as origens das organizações que em Portugal exerceram a repressão politica desde os tempos da monarquia até à República. Explicam-se também as razões históricas do golpe militar que instaurou em 28 de Maio de 1926 o regime da ditadura militar.
Neste episódio relatam-se os acontecimentos históricos que se seguiram à instauração do regime da ditadura militar em 1926 e explicam-se as razões que levaram à criação da primeira polícia política - A Polícia de Informações de Lisboa. A investigação revela factos e documentos inéditos deste período mostrando também imagens e elementos biográficos do primeiro diretor da Policia de Informações - o tenente Brás Vieira. Narra-se ainda a história dos primeiros deportados políticos da ditadura que foram exilados para Timor porque eram considerados perigosos terroristas. No grupo estava o jovem algarvio Manuel Viegas Carrascalão que acabaria por viver e casar em Timor. A história de Timor-Leste confunde-se com a dinastia Carrascalão composta por um pai algarvio uma mãe timorense, catorze filhos e dezenas de netos. O episódio narra também como a polícia perseguiu e prendeu os conspiradores das duas primeiras revoltas contra a ditadura militar, os golpes reviralhistas do Porto em 3 de Fevereiro e de Lisboa a 7 de Fevereiro de 1927. Conta-se também como homens importantes do futuro regime Salazarista como António Ferro e Henrique Galvão foram perseguidos pela polícia política na sequência do chamado Golpe dos Fifis ocorrido em Agosto de 1927.
Será possível que o próprio Salazar tivesse sido um alvo da polícia politica? Em Março de 1928 Carmona faz-se eleger Presidente da República. Perante a incapacidade da jovem Polícia de Informações em controlar as conspirações, Carmona aceita o convite de um membro dos serviços secretos franceses. O espião George Guyomard visita Portugal para estudar as forças de Segurança em Portugal e os seus inimigos. Fica apenas três meses. Não deteta nenhuma ameaça comunista. Em Portugal havia ditadura mas não havia ditador. O poder segundo o espião francês estava nas mãos dos tenentes que haviam construído uma espécie de "sovietes de quartéis". O governo de Vicente de Freitas toma posse em Março de 1928, mas o país aguarda até fins de abril por um salvador ministro das finanças. Em Coimbra o professor de economia Oliveira Salazar é convidado pelo novo ministro da educação Duarte Pacheco mas resiste. É por influência do padre jesuíta Mateo que Salazar aceita finalmente o cargo trazendo a igreja de novo à área de influência do poder. Em abril de 1928 estavam formadas as duas forças que iriam batalhar pelo poder dentro do regime. De um lado Vicente de Freitas e a direita republicana que pretende o regresso à normalidade constitucional. Do outro Salazar e os tenentes nacionalistas. Mas para dominar o país é preciso primeiro controlar a polícia política. A luta pelo poder passa dos quartéis para dentro do governo. O chefe do governo Vicente de Freitas nomeia um homem da sua confiança para a tutela da Polícia de Informações - o coronel Pestana Lopes. Salazar sustenta que esta é a policia privada do senhor presidente do conselho e torna-se assim um alvo da Polícia de Informações. Numa carta secreta a que esta investigação teve acesso, no Arquivo Salazar, descobre-se que o diretor da policia queria correr com a "padralhada" do governo. Neste episódio narra-se ainda como a Policia de Informações recorreu a informadores pagos a
Em quatro anos a primeira polícia política da ditadura, comandada apenas por militares, superou a ingenuidade inicial e passou a ser um poder temido dentro do próprio regime. A pequena dúzia e meia de agentes apoiados pela GNR, e pela PSP, prendem, torturam e deportam milhares presos de forma impiedosa e sem julgamento. Nem o futuro prémio Nobel da medicina Egas Moniz escapa à sanha persecutória da polícia politica em abril de 1931. A Policia de Informações é a primeira responsável pelo clima de medo que irá durar 48 anos continuado pela PVDE e depois pela PIDE. Em 1931 Portugal sofria os efeitos da dura crise económica resultante da Grande Depressão de 1929. O regime militar acossado pela fome e pelo ambiente de rebelião no país emprega a força para dominar as revoltas. A mais grave de todas na Madeira é sufocada em princípios de maio. Aos revoltosos o regime já não destina agora um plácido degredo. São enviados para Cabo Verde e Timor e colocados em campos de concentração de arame farpado. Um dos locais escolhidos é na ilha de São Nicolau perto de uma aldeia chamada Tarrafal. É o primeiro Tarrafal da ditadura. Em 1936 surgirá na ilha de Santiago, um outro campo perto de outra aldeia curiosamente também chamada Tarrafal. Estranhamente, dia 2 de julho de 1931 o Diário de Lisboa anuncia discretamente a extinção da Policia de Informações. Seria o fim da repressão política em Portugal? Que razões levaram a ditadura a terminar com a instituição que foi fundamental para consolidar a ditadura? Quais as consequências desta estranha decisão?
No verão de 1931 a Ditadura Militar aposta na Policia Internacional Portuguesa. Considera que estão fora do país as maiores ameaças ao regime. Teme-se que a esquerda republicana que governa em Espanha apoie com armas a oposição portuguesa. A Policia Internacional Portuguesa é remodelada no mesmo dia em que se extingue Polícia de Informações. Pretende-se uma nova imagem para a polícia que defende o regime. O Ministro do Interior Lopes Mateus escolhe o capitão Agostinho Lourenço para dirigir a Policia Internacional. Lourenço foi durante cinco anos o braço direito do comandante da PSP de Lisboa, Ferreira do Amaral. Mas enquanto Lourenço organiza a Policia Internacional, o regime ficou por uns tempos sem polícia politica. Um erro que poderia ter sido fatal para os homens da Ditadura. Na madrugada do dia 26 de Agosto grupos de militares revoltosos liderados por Utra Machado e pelo célebre piloto de aviação Sarmento de Beires ocupam pontos estratégicos por toda a cidade de Lisboa. A revolta de 26 de Agosto foi a última revolução com confrontos nas ruas até ao 25 de Abril. Apesar de ter durado apenas umas horas, foi sangrenta. Morreram cerca de 40 pessoas e houve quase três centenas de feridos. João Lopes Soares o pai de Mário Soares é dos poucos que consegue fugir. Muitos dos companheiros da revolta foram presos pela polícia. Tendo em conta o quase desastre de 26 de agosto, o governo volta a criar uma polícia secreta atenta às conspirações internas. Instaura-se a confusão no interior do regime militar. Em 1932 existem duas polícias com funções que se atropelam. Os jornais falam à vez de operações contra comunistas e anarquistas: umas da Policia Especial, outras da Policia Internacional. Em Março de 1932 Mário Pais Sousa irmão do cunhado de Salazar é nomeado Ministro do Interior. É o primeiro civil à frente do ministério desde o início da Ditadura. O salazarismo começa a mandar nas polícias e prepara-se para mandar no pa
Este episódio começa investigando uma misteriosa foto. Em 1931 no mesmo ano em que assume o comando da polícia politica (cargo que mantém ao longo de 26 anos fundando a PVDE e a PIDE) o capitão Agostinho Lourenço aparece numa cerimónia republicana, ao lado de um conhecido maçom, o medico Ramon Nonato La Féria, histórico opositor do regime de Oliveira Salazar. Instala-se a dúvida. Poderia o chefe da repressora polícia política ter sido maçom? Se Lourenço foi maçom, como perceber, que tenha aceitado dirigir, a PVDE em 1933? Instituição que perseguiu, a partir de 1935 sem tréguas, a maçonaria e restantes ordens secretas entretanto ilegalizadas. Poderia um maçom ser fiel a Oliveira Salazar, católico, e conservador? A 28 de Agosto, de 1933, o Diário do Governo anuncia a formação da PVDE - a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado. Para a oposição a PVDE é uma operação de cosmética para limpar a má fama das anteriores polícias da ditadura. Mas Salazar junta a PDPS e a Policia Internacional Portuguesa numa só policia também para acabar com as rivalidades políticas que conspiravam pelo controlo da polícia politica e fraturavam o regime por dentro. No dia 18 de novembro de 1933 a recém-criada Sociedade da Propaganda Nacional liderada por António Ferro mostra-se ao país. Aproveita-se o lançamento à água do contratorpedeiro Douro, um dos 5 navios da classe Vouga mandados construir por Salazar, para fazer uma cerimónia imponente. Nessa mesma noite, pela calada, a PVDE põe em marcha a sua primeira grande operação de repressão política prendendo centenas de opositores por todo o país. O grande objetivo da PVDE era no entanto o famoso major Sarmento de Beires. Porque era perseguido pela polícia este então célebre pioneiro da aviação militar portuguesa?
Novembro de 1933 é um mês decisivo para o Estado Novo e para a nova polícia politica - a PVDE. Salazar conseguira fazer aprovar em plebiscito a Constituição do Estado Novo. Enquanto a propaganda do novo regime, liderada por António Ferro, faz inaugurações pomposas, a PVDE prende em massa a oposição reviralhista. Restam, como oposição, os anarco-sindicalistas e os comunistas que se juntam pela primeira vez numa frente comum. José de Sousa, líder da CIS confederação sindical comunista e Mário Castelhano líder da CGT anarquista serão os grandes dinamizadores da luta contra a nacionalização dos sindicatos. Prepara-se a batalha de 18 de janeiro de 1934, uma greve revolucionária para derrubar à força o governo de Salazar. A última batalha para impedir a consolidação do regime salazarista é a luta em defesa dos sindicatos livres. Este episódio da série documental A Pide Antes da Pide investiga ainda como procurou o PCP lutar contra a ditadura militar e como descobriram os agentes da polícia politica a instalação do aparelho clandestino comunista. Numa edição de 1947 do jornal clandestino O AVANTE surge pela primeira vez a cara de um agente da PIDE. A inédita foto de Fernando Gouveia, na capa do jornal clandestino Avante serve para alertar os funcionários do PCP. Este era o agente que mais deveriam temer. Desde os anos 30 que os comunistas tiveram desde sempre no seu encalço um inspetor de aspeto franzino e um chefe de brigada, ex-padeiro, de Trás-os-Montes. Fernando Gouveia e José Gonçalves formaram uma dupla que ficou conhecida como os caça-comunistas. Porque eram estes agentes tão temidos pelos comunistas?
Em Agosto de 33 Salazar publica o Estatuto do Trabalho Nacional. Em Portugal acaba o sindicalismo livre, criminaliza-se o direito à greve e começa o corporativismo. Mas os anarco-sindicalistas e os comunistas não desarmaram. Unem-se pela primeira vez numa greve geral revolucionária. O objetivo desta primeira "geringonça" é derrubar à força de bombas o regime de Salazar e Carmona. Mas houve uma região que a PVDE descuidou nos planos da greve revolucionária - a Marinha Grande. Na região vidreira, os grevistas tomaram de assalto o posto da GNR e dos CTT. A ocupação durou poucas horas. No rescaldo da falhada greve revolucionária a PVDE prendeu 696 pessoas só em processos relacionados com a Greve Revolucionária. A polícia política usa a tortura violenta para encontrar os responsáveis pelos atentados bombistas de 18 de Janeiro. Vários dos presos não aguentam as violências e "suicidam-se". É o caso do militante comunista Mário Vieira Tomé que aparece morto na prisão. Neste episódio tenta-se desvendar o caso e obter pela primeira vez provas concretas de tortura na PVDE. O anarquista Jaime Rebelo corta a língua e Jaime Cortesão dedica-lhe o poema Romance do Homem da Boca Cortada. Apesar das prisões em massa de 1934, o único dos movimentos anti ditadura que não teve líderes presos foi o PCP que fica solitário na oposição ao regime. A propaganda do regime concentra-se no combate ao comunismo considerado por Salazar "a grande heresia da nossa idade". Mas à direita do ditador surge outra ameaça ideológica para o regime. Um ano antes, em Fevereiro de 1933 o Jornal ABC espanhol destacava na primeira página a grande reunião dos nazis portugueses saudando o chefe Rolão Preto. A ascensão do movimento fascista dos camisas azuis foi repentino. Começam por contestar a formação da União Nacional. Como é que um fascista consegue ameaçar a liderança do ditador Salazar e se torna num dos inimigos públicos perseguidos pela PVDE?
António Roquete foi a primeira grande vedeta do desporto português. O guarda-redes do Casa Pia e da Seleção Nacional, alto e poderoso, parecia um galã do cinema. Nos jogos olímpicos de Amsterdão, em 1928, Portugal chegou aos quartos-de-final e Roquete foi o herói da equipa nacional de futebol. As defesas de Roquete foram usadas num cartaz de promoção dos jogos. Mas em 1931 o guarda-redes desaparece das páginas dos jornais desportivos. Três anos depois o jornal Noticias Ilustrado descobre Roquete no Minho, com uma nova farda, a de agente da polícia política. Estava resolvido o mistério. Roquete passou de ídolo das cadernetas a agente temido da PVDE. A PVDE temível polícia política de Salazar destroçara aos poucos a oposição ao regime. Chefiada pelo capitão Agostinho Lourenço a polícia encerrou a maçonaria, desmantelou à direita os nacionais-sindicalistas de Rolão Preto e à esquerda o forte movimento anarquista. O PCP ficou isolado na luta contra Salazar. Mas no final de 35 sofreu também um duro golpe com a prisão do secretariado liderado pelo carismático Bento Gonçalves. Mas precisamente neste período crítico para a oposição, um acontecimento vem relançar a esperança. Em Fevereiro de 1936 a Frente Nacional de esquerda vence as eleições em Espanha. Salazar volta a ter do outro lado da fronteira um governo hostil. E o pior vem a seguir. Em julho começa guerra civil. Nos inícios de 37 as atenções da polícia política portuguesa estavam portanto centradas na guerra civil de Espanha. É nessa altura que um pequeno grupo de resistentes planeia o pior golpe que Salazar sofreu durante os anos da ditadura. Como é que a poderosa PVDE e as centenas de informadores não conseguiram evitar um atentado ao ditador capaz mudar a história do regime?