1894. Florbela nasce na pequena vila alentejana de Vila Viçosa. Filha de mãe solteira, quando completa poucos anos de vida é tirada dos braços da mãe pelo pai, João, e levada para uma nova vida. A infância é marcada pelos livros, a vontade de escrever e o irmão Apeles que cresce a seu lado e sob o olhar cuidado da madrasta, Mariana. Anos mais tarde, Florbela conhece aquele que viria a ser o primeiro marido, Alberto. O casamento é marcado, mas a vida a dois não satisfaz uma mulher que questiona tudo. Dá aulas, vive aqui e ali, percorrendo o sul do país, até que uns poemas publicados num jornal de Lisboa revolucionam a cabeça da jovem poetisa. Em 1919 publica o primeiro livro com a ajuda do pai, divorcia-se para escândalo local e muda-se para Lisboa onde conhece o segundo marido, António, militar de carreira e que a levaria novamente para longe do bulício da capital. Mas este segundo casamento acaba em fracasso e a violência das palavras transforma-se em violência física. No rescaldo deste período menos feliz, Florbela conhece Mário Lage, abandona a escrita e prepara-se para uma nova etapa na sua vida.
Estamos em 1925. Florbela abandona a casa onde vivia com o segundo marido e instala-se na vida do terceiro - Mário Lage. É um período difícil. A família dela - pai e irmão - não viram com bons olhos o segundo divórcio e cortam relações com ela. Entretanto, a vida em Matosinhos é calma, demasiado calma para uma mulher com sede de viver e uma carta de Apeles vem destabilizar tudo. O irmão mais novo de Florbela pede-lhe que o visite em Lisboa. Tem quatro dias de licença e podem assim fazer as pazes e retomar a proximidade que sempre tiveram. Florbela faz uma mala e parte, à procura do irmão, da vida, da adrenalina que deixou para traz quando casou com Mário. Em Lisboa, o reencontro é poderoso e Florbela está disposta a esquecer, por alguns dias, a sua vida no Norte do país. Mas a visita intempestiva de Mário perturba-a e este triângulo de vontades só pode correr mal. E corre ainda pior quando Florbela percebe que o irmão nunca irá desistir da carreira de piloto-aviador que ela tanto teme e que, o seu instinto feminino não para assombrar.
Apeles morre num desastre de avião em pleno Tejo e Florbela cai numa espiral de loucura e sofrimento que a levam ao internamento. Mas a morte também serve para ajustar contas com a vida e Florbela, recuperada, decidida, faz uma mala e parte para Vila Viçosa, o lugar onde tudo começou e reencontra o passado: o pai, o primeiro marido, a biblioteca e os livros onde escreveu pela primeira vez, a paisagem alentejana. Neste seu regresso ela tenta, pela última vez, encontrar-se a si mesma. Mas nem tudo é simples, nem a vida lhe dá todas as respostas. A morte de Apeles foi e é um rude golpe na sua estabilidade e Florbela equaciona a sua própria vida. Até que um momento de desespero a faz reconsiderar tudo até mesmo o seu destino. E diante do fantasma do irmão e do amor que lhe tem, ela decide, mergulhar uma última vez e voltar a escrever. Mais não seja, escrever o irmão e assim vencer a morte que o levou.